terça-feira, 11 de novembro de 2008

Programação

Programação

Seminário de estudos em ciência, tecnologia e sociedade – Fafich – UFMG


 

19 de Novembro – Auditório Prof. Baesse – 4059

Mesa 1 - Abordagens em ciência, tecnologia e sociedade I – 10:00 – 11:45

Debatedor: Eduardo Viana Vargas (Departamento de Sociologia e antropologia - UFMG)


 

A sedução da etnografia da ciência

Renan Springer de Freitas (Departamento de Sociologia e Antropologia – UFMG)

Este artigo compara os resultados do exercício, peculiar aos sociólogos e antropólogos da ciência pós-kuhnianos, de documentar a prática científica cotidiana - ou o que se convencionou chamar de science-in-the-making - com os resultados advindos de um exercício análogo, relativo à arte, realizado algumas décadas antes pelo historiador da arte Ernst Gombrich. Argumenta-se que, enquanto Gombrich foi conduzido a resultados verdadeiramente auspiciosos - sendo-lhe permitido, por meio de seu empenho em estudar o que se poderia chamar de art-in-the-making, mostrar como diferentes estilos de representação pictórica se formam e evoluem -, sociólogos e antropólogos pós-kuhnianos foram conduzidos a apenas uma insossa crônica da ciência. Discute-se a razão do sucesso do primeiro e do fracasso dos últimos.

Sociologia do Conhecimento Científico e Tecnológico: da Compreensão à Intervenção

Rodrigo Magalhães Ribeiro (Departamento de Engenharia de Produção – UFMG)

A Sociologia do Conhecimento Científico e Tecnológico (SCCT) é uma área academicamente pouco difundida no Brasil. Ademais, é pouco explorada no seu potencial de explicação e intervenção em problemas práticos do nosso quotidiano. Cita-se como exemplos a sua aplicação na discussão dos limites da substituição do humano pela máquina, na otimização de processos de transferência de conhecimento e na elaboração de projetos educacionais e políticas públicas em ciência e tecnologia. Difundir, compreender em profundidade e utilizar os conceitos da SCCT em pesquisa acadêmica de cunho interventivo são os objetivos de uma recente linha de pesquisa fundada no Departamento de Engenharia de Produção da UFMG. Como a Sociologia do Conhecimento Científico e Tecnológico tem interfaces com a filosofia, história da ciência, antropologia, inteligência artificial e com a própria sociologia, é interesse do(s) membro(s) desta linha de pesquisa interagir com outras áreas da UFMG e, em especial, com os(as) professores(as) e alunos(as) da FAFICH. Para que isto ocorra, é necessário uma breve explanação desta vertente da sociologia e, principalmente, das pesquisa associadas à mesma em andamento no Departamento de Engenharia de Produção. Esta é a proposta da apresentação a ser feita como parte do "Seminário de Estudos de Ciência, Tecnologia e Sociedade".

SABER OU FAZER? Agência nos estudos de ciência: a prática e a ecologia nas relações humanas com a natureza.

Carlos Alvarez Maia (Departamento de História - UERJ)

O foco deste trabalho está na Ecologia como condição do Ser. Trata-se de um estudo das relações recíprocas estabelecidas historicamente entre os homens e destes com o seu meio, tanto natural quanto social. Aqui se pensa o humano como um animal pulsional, que nunca está só, isolado em/por sua racionalidade. Esse humano se faz terrena e coletivamente em confronto contínuo com seus contextos e assim conduz seu viver. Ele eclodiu na clivagem de dois planos – o material e o simbólico – e vive em processo de construção permanente. Construção de si e do mundo. Essa configuração ecológica para o humano promove ao longo da história um saber e um fazer, ambos bem sucedidos, hoje designados como "ciência". E este é o ponto crítico de partida deste artigo.

19 de Novembro – Auditório Prof. Baesse - 4059

Mesa 2 - Abordagens em ciência, tecnologia e sociedade II – 14:00 – 15:45

Debatedor: Renarde Freire Nobre (Departamento de Sociologia e antropologia - UFMG)


 

Os programas de pesquisa Lakatosianos e a metodologia da economia neoclássica: contribuições críticas

Ricardo Agostini Martini (Mestrando em Economia/CEDEPLAR – UFMG)

A obra de Imre Lakatos procurou proporcionar um refinamento à abordagem falsificacionista popperiana, que o inspirou, mediante a incorporação de conceitos desenvolvidos por Thomas Khun, mas sem negar algumas das hipóteses clássicas do falsificacionismo, como os critérios demarcacionistas e a ênfase na investigação e nos testes empíricos. As principais idéias do autor consistem na noção de programa de pesquisa como uma estrutura dotada de um núcleo irredutível de hipóteses básicas das teorias levantadas, protegido por um cinturão protetor de hipóteses auxiliares e por heurísticas positivas e negativas que guiam o processo de investigação científica. O pensamento de Lakatos foi muito discutido na metodologia da economia por parecer defender boa parte do trabalho, teórico e empírico, dessa profissão. Contudo, apesar de um entusiasmo inicial, a aplicação dos programas de pesquisa lakatosianos na ciência econômica passaram a ser criticados pela bibliografia em geral a partir dos anos oitenta. Parte dessas críticas dirigiram-se diretamente a Lakatos; outras dirigiram-se ao pensamento falsificacionista; e outras críticas atacaram os próprios critérios demarcacionistas da metodologia científica. O presente estudo busca realizar uma revisão bibliográfica sobre os principais pontos destacados nesse debate.

O 'fato' na construção do conhecimento da ciência: breve diálogo entre FLECK, KUHN, LATOUR e BLOOR

Fernanda Schiavo Nogueira (Graduanda em História – UFMG)

Ao longo do tempo, os considerados 'fatos científicos' transitariam da condição de verdades absolutas a quase apêndices da ciência, principalmente depois da influência do Programa Forte de Sociologia, emergente nos anos de 1970. Nesse sentido, consideramos fundamental fazer um balanço sobre as acepções desenvolvidas para a compreensão das especificidades do 'fato científico' e de seu complexo processo de construção, com especial enfoque para as interações engendradas entre objeto e sujeito do conhecimento. Paralelamente, analisaremos a relação existente entre a interpretação sobre o processo de construção do 'fato científico' e a maneira pela qual seria concebida os saltos qualitativos dados pela ciência, no trancorrer do tempo. Posteriormente, finalizaremos refletindo como fica o estatuto da verdade do conhecimento da ciência, desde então tão atrelado a boa articulação com a base factual, a partir do relativismo instaurado pelo Programa Forte. Para possibilitar as discussões propostas, procuraremos explorar a riqueza dos pontos de vista desenvolvidos, em especial para as chamadas hard sciences, por pensadores ligados à Historiografia da ciência, a saber: Ludwik Fleck, Thomas Kuhn, Bruno Latour e David Bloor, em obras de grande repercussão.

Paradigma versus léxico: uma análise da trajetória de Thomas Kuhn em busca de um padrão de desenvolvimento científico

Fernanda Arruda Caldeira Brant

Este trabalho tem por objetivo fazer uma análise da obra de Thomas Kuhn relativa à história e filosofia da ciência. Partindo de A Estrutura das Revoluções Científicas, serão analisados os conceitos-chave que dão sustentação à sua teoria de desenvolvimento científico: paradigma, ciência normal, revoluções científicas e incomensurabilidade. Da análise de críticas que foram feitas a este primeiro trabalho de Kuhn pretende-se entender como seus novos posicionamentos transformam sua obra original, especialmente o desenvolvimento do conceito de léxico e a releitura da incomensurabilidade que confere a esta última um novo papel para a evolução do conhecimento científico. Sabe-se que Kuhn pretendia escrever um livro com o resultado de seus novos estudos. Mas esta tarefa foi interrompida por seu falecimento. Seus textos mais importantes foram publicados postumamente numa compilação intitulada O Caminho Desde A Estrutura. Esta compilação serviu de base para este trabalho a fim de determinar até que ponto seus novos posicionamentos superam as dificuldades impostas pelo seu primeiro trabalho, extensamente aclamado e igualmente criticado.


 

19 de Novembro – Auditório Prof. Baesse - 4059

Mesa 3 - Abordagens em ciência, tecnologia e sociedade III – 16:00 – 17:45

Debatedor: Mauro Lúcio Condé (Departamento de História - UFMG)

Estudos sobre a Revolução Científica: Koyré, Kuhn e Cohen.

Francismary Alves da Silva (Mestranda em História – UFMG)

Entender as transformações do conhecimento humano é uma questão relevante para os estudos em História das Ciências e áreas afins. Uma das chaves para se compreender o desenvolvimento científico têm sido os estudos a respeito daquilo que se convencionou chamar "Revolução Científica Moderna". Alguns autores desenvolveram importantes contribuições para o entendimento dessa revolução, dentre eles, Alexandre Koyré, Thomas Kuhn e Bernard Cohen. O diálogo entre seus trabalhos permitiria um maior esclarecimento de suas posições teórico-metodológicas e das posturas assumidas por cada autor. Além disso, um estudo comparativo entre esses autores também permitiria enfatizar o contraste entre as distintas tradições que marcaram a trajetória da disciplina de História da Ciência.

Três modelos de estudo para as controvérsias científicas

Rafael Antunes Almeida (Mestrando em Sociologia – UFMG)

Quando acompanhamos o desenvolvimento histórico da sociologia da ciência, é possível perceber a emergência de três diferentes abordagens para o problema das controvérsias científicas. A primeira abordagem, apresentada por Merton em meados dos anos 50, procura enquadrar o problema das controvérsias dentro de uma análise institucional da ciência; a segunda, levada a cabo por Harry Collins, procura tratar controvérsias científicas como eventos nos quais é possível desvelar os procedimentos utilizados pelos cientistas para tornar suas teorias pertencentes ao domínio dos fatos; e uma terceira abordagem, cuja origem remonta a Latour e Callon, procura fazer da controvérsia não apenas um evento do qual se poderiam extrair algumas notas sobre as práticas científicas, mas antes, tornar tais interessantes situações o próprio objeto de interesse do trabalho.

Minha intenção neste artigo consiste em apresentar estas três diferentes abordagens para a temática das controvérsias científicas, atencioso ao fato de que ainda que tais fenômenos venham aparecendo cada vez mais na agenda de pesquisa dos investigadores em CTS, não dispomos de uma revisão que procure nos informar sobre o estado da arte de tal discussão.

Pensamento técnico e diferentes modos de existência em Gilbert Simondon: algumas precisões conceituais.

Levindo da Costa Pereira Jr ( Doutorando em Antropologia Social do Museu Nacional- UFRJ)

O texto apresenta alguns delineamentos conceituais advindos da análise de certos aspectos da obra do filósofo e cientista francês Gilbert Simondon (1924-1989). Pouco estudado no Brasil, afora algumas apropriações pontuais nas áreas da teoria da comunicação e da teoria da ciência, o esforço aqui é projetar (ou ajudar a precipitar) uma imagem de seu pensamento acerca do que ele próprio denominou objetos técnicos (concretos, abstratos), expandindo alguns usos conceituais -- e ao fazê-lo empreender uma tentativa de definição um tanto mais rigorosa de tais conceitos -- que o mesmo desenvolveu acerca das noções de individuo, invenção, progresso, fase/de-fasagem (entre outras) e, neste percurso, indicar o interessante e constante trabalho de analogia que Simondon realiza com temas mais próximos da teoria antropológica, a saber, religiosidade e, sobretudo, magia. Entremostra-se, ainda, as possíveis contribuições do pensador para uma concepção de cultura (técnica e outras).

20 de Novembro – Auditório da Escola de Ciência da Infomação

Mesa 4 - O Campo CTS e suas apropriações - 08:00 – 09:45

Debatedor: Em definição

Os Grupos de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade no Brasil

Ronaldo Ferreira (Mestrando em Ciências da Informação – UFMG)

A abordagem dos estudos sobre Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) situa-se em uma análise crítica e interdisciplinar da Ciência e da Tecnologia num contexto social, tendo por objetivo a compreensão dos aspectos gerais do fenômeno científico-tecnológico. O presente trabalho descreve a pesquisa científica em CTS no Brasil a partir do censo 2006 do Diretório dos Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O critério para a identificação dos grupos estudados foi a presença da articulação CTS em dos seguintes campos descritos no diretório: nome do grupo, linhas de pesquisa, descrição ou repercussão do grupo. Foram identificados 30 grupos, 97 linhas de pesquisa, 217 pesquisadores, 216 estudantes e 11 técnicos. Discuti-se as áreas de conhecimento em que se inserem estes grupos, o período de seu surgimento e sua distribuição geográfica e institucional. Para melhor constatação sobre a atuação dos grupos CTS no Brasil sugere-se desdobramentos em outros estudos que utilizem bons descritores para a articulação CTS e estratégicas para localização dos grupos que estão constituídos fora dos espaços acadêmicos.

PROPOSTAS EDUCACIONAIS BASEADAS EM CTS E PAULO FREIRE NO ENSINO DE CIÊNCIAS: REFLEXÕES SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Guilherme Trópia; Fabrícia Amorim; Marcelo Camargo Martins (Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica da Universidade Federal de Santa Catarina)

Uma das preocupações no ensino de ciências é desenvolver práticas pedagógicas que buscam apurar o conhecimento científico em sala de aula. A abordagem CTS e a pedagogia freireana se destacam nesse contexto. A perspectiva CTS no meio educacional apresenta uma dimensão social dos conhecimentos científicos e tecnológicos voltada para a formação de um cidadão crítico em uma sociedade cada vez mais tecnológica. Para Paulo Freire, o conhecimento é uma leitura do mundo que os sujeitos fazem para transformá-lo. Ele propõe uma educação problematizadora por meio de "temas geradores" que são originados através de uma pesquisa denominada investigação temática. Analisamos como essas propostas concebem o conhecimento científico no ensino de ciências e discutimos que ambas buscam superar o ensino que trabalha conhecimentos científicos desconectados da sociedade e propõem a formulação de seqüências de ensino a partir de situações sociais, sendo que as finalidades das propostas podem ter perspectivas diferenciadas. Discutimos a questão da ruptura-continuidade entre o conhecimento científico e senso comum nas propostas educacionais analisadas.

A MAIÊUTICA E A ERÍSTICA NO ENSINO DE GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Elivane Amaral de Souza Assis (Mestranda em Educação Tecnológica – CEFETMG) ; Fábio Wellington Orlando da Silva (Departamento de Física e Matemática – CEFET-MG)

O objetivo da pesquisa é investigar como a Maiêutica e a Erística poderiam ajudar professores e estudantes a desenvolver o pensamento crítico, a perceber argumentos falaciosos e, principalmente, a compreender o processo de desenvolvimento da ciência como uma estrutura rica e dinâmica. A Maiêutica, presente nos diálogos de Platão, é um método desenvolvido pelo filósofo grego Sócrates (470-399 AC), que ensinava, por meio do diálogo, a arte de raciocinar de modo adequado, fazendo perguntas e estabelecendo relações entre idéias. Ela tem uma finalidade ética e educativa, em que o interrogado busca a verdade através da coerência lógica. A Erística foi desenvolvida pelo filósofo alemão Schopenhauer (1788-1860), em que ele demonstra e ensina a reconhecer 38 estratagemas, ou regras explicitamente inválidas de inferência, usadas apenas para confundir e destruir o adversário. Pretende-se investigar o conhecimento dos estudantes de cursos de graduação em ciência e tecnologia a respeito dessas regras, inválidas ou não, e de sua percepção da ciência. As questões propostas são: quais são os tipos de argumentos inválidos que os estudantes seriam capazes de perceber no discurso, seja ele científico, pseudo-científico ou do cotidiano? Que habilidades de argumentação eles dominam para elaborar abstrações, análises ou sínteses, estabelecer conclusões ou realizar avaliações? Que percepção eles têm da ciência, antes e após tomar conhecimento da Maiêutica e da Erística? A hipótese de partida é que a maioria não compreende as regras mais elaboradas do pensamento analítico e da dialética, mas que essa situação pode ser significativamente alterada por meio de intervenções.

20 de Novembro – Auditório da Escola de Ciência da Infomação

Mesa 5Ambiente, Tecnociência e Sociedade - 10:00 – 11:45

Debatedor: Em definição

O SISTEMA VIÁRIO E DE TRANSPORTES EM FLORIANÓPOLIS

"Uma contribuição aos estudos CTS"

Fernando
Teixeira (Doutorando em Educação Científica e Tecnológica – UFSC)

O artigo faz uma reflexão sobre as atuais condições de mobilidade urbana na cidade de Florianópolis. Resgata historicamente a evolução do sistema viário e de transporte ao longo do processo de urbanização do município, apontando as modificações que ali se processaram e que provocaram fortes alterações tanto na paisagem natural e arquitetônica, quanto nas relações sociais que se estabelecem em âmbito comunitário. Alerta para a necessidade de se repensar o atual modelo, o qual se baseia na utilização em grande escala do transporte individual, tendo em vista, principalmente, a ausência de políticas públicas que favoreçam um transporte coletivo de qualidade. Toda a análise está pautada numa abordagem crítica em que se discute os avanços da ciência e da tecnologia utilizadas neste setor, buscando-se com isso elucidar seus reflexos sobre a cidade e seus habitantes. Finaliza fazendo uma reflexão sobre a necessidade de se estabelecer um processo contínuo de discussão sobre o tema, não só em âmbito acadêmico, mas também através das organizações sociais. Aponta para a necessidade da formação de cidadãos críticos e atuantes e para isso propõe uma educação que discuta as implicações da ciência e da tecnologia sobre a sociedade.

Uso e desuso: agrocombustíveis, sustentabilidade e insustentabilidade ecológica

José Cândido Lopes (Graduando em Filosofia – UFMG)

As fontes de energia renováveis estão muito visadas desde a descoberta de que o petróleo não é uma dessas fontes, que os estoques mundiais do ouro negro são finitos. Algumas idéias foram motivadas pela descoberta: a produção de energias alternativas, além de economicamente viáveis, dada sua qualidade renovável, seriam menos poluentes e poderiam se tornar a chave de independência energética de vários países. Mas os planos acatados principalmente por governos, como o Pró-alcool aqui no Brasil na década de 1970, não se mostraram realmente eficazes. Ao longo das três últimas décadas do século XX e até hoje, em 2008, muitas discussões foram levantadas em torno dessas produções. Uma delas acusa que a produção de etanol a partir de grãos comestíveis tomaria o lugar da produção de alimentos. Além disso, estudos sócio-ambientais apontam rumos inapropriados tomados pelos produtores de etanol no centro do Brasil. Tais produções causam efeitos sócio-ambientais imensos, que têm alcance muito maior que meramente local.O quadro se configura assim: ainda poluímos muito com gazes tóxicos, ainda utilizamos o petróleo como fonte principal de energia combustível e os primeiros projetos para produção sustentável de combustíveis alternativos ainda não alcançaram eficácia. Várias vozes compõem uma vasta discussão. A produção de combustíveis alimenta uma grande controvérsia econômica, social, ambiental e política. Este trabalho pretende apresentar uma rede básica de ações e agenciamentos mais significativos para a compreensão de alguns problemas relativos à produção de combustíveis.

Opções Tecnológicas e Meio Ambiente: o caso da tecnologia de reuso de água do Pólo Petroquímico do Grande ABC paulista.

Guilherme Guimarães Pallerosi (Mestrando do Programa de Pós Graduação de Ciência Tecnologia e Sociedade da Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR)

O trabalho faz uma reflexão no campo de Ciência Tecnologia e Sociedade (CTS) sobre as tecnologias de baixo impacto ambiental através de um estudo de caso na indústria petroquímica. As tecnologias de baixo impacto ambiental tem sido atualmente o grande argumento do setor produtivo para a crítica ambientalista aos riscos da degradação da natureza, tomando-se da idéia de que as tecnologias podem abrandar os danos e impactos causados à natureza. Muitos teóricos do campo de CTS alertam, porém, para a complexidade envolvida nas questões relacionadas às tecnologias e o desenvolvimento sustentável da sociedade moderna.

Desconsiderando aqui assuntos mais técnicos relativos eficiência das engenharias e dos modelos de gestão da indústria petroquímica, o debate orienta-se através de temas que abordam as opções tecnológicas que causam menor impacto no meio ambiente e, conseqüentemente, possibilitam um desenvolvimento com maior sustentabilidade ambiental. Considerando algumas correntes teóricas que estudam os processos sociais que levam as opções tecnológicas, pretende-se analisar o contexto que tem levado as indústrias petroquímicas a adotarem tecnologias com menor impacto no meio ambiente.

O estudo sobre as tecnologias ditas ambientais (ou sustentáveis) busca identificar atores que influenciam as opções tecnológicas além da empresa ou dos sistemas especialistas. O trabalho também abre precedente para outros debates, buscando definir uma linha de pesquisa que estude as tecnologias ambientais por um viés mais amplo e sistêmico, analisando o contexto social onde são construídas.

20 de Novembro – Auditório da Escola de Ciência da Infomação

Mesa 6Cérebros sócio-técnicos- 14:00 – 15:45

Debatedor: Bernardo Jefferson de Oliveira

Um espantalho chamado "Modelo Padrão das Ciências Sociais"

Alisson M. Soares (Mestrando em Sociologia – UFMG)

Haveria atualmente um ponto de atrito importante entre ciências naturais e ciências sociais: ambas defenderiam diferentes teorias sobre a mente. Esta é a tese que a Sociobiologia vem defendendo ao longo de aproximadamente trinta anos e mais atualmente a Psicologia Evolucionista. Para estes, haveria o chamado Modelo Padrão das Ciências Sociais, do qual participaria quase todas as ciências sociais já produzidas, estando estas por sua vez embasadas nas teorias da Tabula rasa e na teoria de que a arquitetura da mente seria de multi-uso (general purpose). No entanto, a Sociobiologia, junto a outras diversas disciplinas das ciências naturais, estaria mostrando que tal "teoria" da mente que serviria de fundamento das ciências sociais estaria refutada, exigindo-se por conseqüência a reformulação das ciências sociais já feitas até hoje. As ciências sociais em seu início teriam rejeitado (acertadamente) o darwinismo social e o racismo "científico", mas erraram ao rejeitar toda e qualquer biologia, sendo tal rejeição atual da biologia pelas ciências sociais explicada unicamente por motivos ideológicos (isto é, o antropocentrismo de querer colocar o homem num reino totalmente à parte dos outros animais). Pretendo contestar a afirmação de que cientistas sociais defenderiam a Teoria da Tabula Rasa e que a recusa das ciências sociais seja explicada por fatores ideológicos. Assim, defendo, o chamado Modelo Padrão das Ciências Sociais não passa de uma construção fantasiosa, de um espantalho.

A saga do cérebro sexuado: neuroimageamento, saliências hemisféricas e conexões neurais na agência cerebral

Marcos Castro Carvalho (Mestrando do Instituto de Medicina Social – (UERJ)

Recentemente, cientistas ligados a um instituto suíço publicaram um polêmico artigo acerca do funcionamento cerebral do ser humano conforme sua orientação sexual. Uma das principais conclusões seria a de que o cérebro de homens homossexuais se assemelharia ao de mulheres heterossexuais, enquanto o cérebro de mulheres homossexuais estaria mais próximo do de homens heterossexuais. Tal pesquisa resultou em grande repercussão midiática, atingindo o público leigo de uma forma geral. O que se pretende discutir é a co-relação existente entre este estudo e uma série de outros promovidos pelos mesmos pesquisadores na busca do dimorfismo sexual do cérebro e das semelhanças e diferenças entre o que consideram como cérebros homossexuais e heterossexuais. Resgatando questões que orientaram a realização dessas investigações, intenta-se debater a eficácia de determinadas analogias científicas. Pretende-se ainda problematizar os modos pelos quais neuroimagens produzidas pelas tecnologias médicas de visualização (como o PETscam e a fMRI) se interligam à constituição de uma verdade e de uma hiperobjetividade em estudos e divulgações cientificas em neurociência.

Ritalina®: de "droga da obediência" à "droga da inteligência", usos previstos e imprevistos de uma mesma substância

Brisa Catão Totti (Graduanda em Ciências Sociais – UFMG)

Esta pesquisa trata de um controverso caso de deslocamento no uso de uma substância. A anfetamina a base de metilfenidato, produzida pelo laboratório Novartis e mais conhecida por Ritalina, seu nome fantasia. Inicialmente prescrito, sobretudo, para tratamento de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção por Hiperatividade) em crianças, esse medicamento vem sendo utilizado já há alguns anos, via automedicação, para estimulação cognitiva. Ou seja, vem sendo tomado por pessoas - ao que tudo indica são principalmente estudantes, empresários e cientistas - que desejam permanecer longos períodos de tempo acordadas, atentas e concentradas, estudando ou trabalhando, sem sucumbir aos efeitos do cansaço. Esse deslocamento conferiu ao medicamento algumas características e possibilidades de debate interessantes. O primeiro ponto diz respeito às diferentes composições das redes envolvidas nos usos biomédicos e nos outros usos e como isso acarreta diferentes concepções de saúde/doença, normalidade/patologia. Ou seja, como esse deslocamento, que é também a invenção de uma modalidade de uso, acarreta a atribuição de novos significados para um mesmo objeto, a Ritalina. Discutiremos também certas questões peculiares, alocadas sob a rubrica da bioética, que os medicamentos que atuam diretamente no funcionamento do cérebro parecem suscitar. Esta apresentação abarcará alguns resultados parciais relacionados aos pontos mencionados.

20 de Novembro – Auditório da Escola de Ciência da Infomação

Mesa 7 – Arte e/na ciência e tecnologia
-
16:00 – 17:45

Debatedor: Marcus Vinicius de Freitas (Faculdade de Letras – UFMG)

Literatura e tecnologia: uma relação possível na obra de Francisco Marques

Josiane Félix dos Santos (Letras/UFMG)
A questão da instrumentação das novas tecnologias, colocando-as em contato direto com o campo artístico, nos remete a dificuldade da transposição entre linguagens. Nesse sentido, discute-se através da obra de Francisco Marques - conhecido como Chico dos Bonecos - em que medida o uso de novas tecnologias possibilitaria a construção de experiências estéticas. No caso de Francisco Mendes, essa construção implicaria, a meu ver, na configuração de uma literatura performática envolvendo e articulando elementos estéticos novos tais como o corpo, a voz, o público-leitor ativo e passivo, as tecnologias, entre outros, num trânsito múltiplo de linguagens que se intercambiam em transposições, ou ainda, em uma riqueza tradutória. Essa proposta se insere num diálogo sobre os vínculos existentes entre a tecnologia e determinadas linguagens artísticas.

Reconfiguração de saberes: As imagens médicas entre a arte, a ciência e a tecnologia

Rosana Horio Monteiro (Universidade Federal de Goiás)

Nesse artigo examino as relações entre arte, ciência e tecnologia a partir do estudo de obras de quatro artistas contemporâneas que se apropriam de imagens médicas – a brasileira Mônica Mansur, a italiana Benedetta Bonichi, a norte-americana Laura Ferguson e a inglesa Susan Aldworth. Interessa-me entender de que maneira o saber científico é lido e reconfigurado através da arte, tendo a visualização interna do corpo como foco. Assim, entendendo a imagem médica como uma representação cultural, algumas perguntas orientam esse trabalho: Como as imagens de raios X, de endoscopia, ultra-som, tomografias, entre outras, interagem com uma rede de interpretações culturais e são reutilizadas fora do contexto médico? Como os conceitos de público e privado são (re)significados? Como os corpos cientificamente medicalizados são (re)construídos no contexto artístico? Essa pesquisa dá continuidade a um trabalho anterior em que investiguei como o processo de leitura de imagens médicas é construído e como os médicos aprendem a atribuir significado a essas imagens. Tendo a visualização interna do corpo, obtida através da mediação de diferentes tecnologias de imageamento, e sua apropriação pela arte como focos, proponho um diálogo entre a história da medicina, de um lado, a história da arte e a cultura visual, de outro.

Watchmen - um estudo dos vínculos entre ciência e histórias em quadrinhos

Márcio dos Santos Rodrigues (História/UFMG)

Discute-se o papel das histórias em quadrinhos na configuração de determinadas expectativas, visões e valores estéticos sobre a ciência, a partir de Watchmen, série em 12 edições escrita por Alan Moore e desenhada por Dave Gibbons. Considerado pela crítica especializada como um dos maiores roteiristas de quadrinhos de todos os tempos, Moore discutiu, em quase todas suas obras, as implicações da ciência no campo da cultura e da sociedade. Em Watchmen, o roteirista britânico pronuncia-se de maneira crítica sobre a ciência e o que circulava a respeito dela no imaginário social, no período da guerra fria. Busca-se compreender em que medida essa obra, lançada originalmente entre 1986 e 1987 nos Estados Unidos, contribuiu para projetar maneiras outras de se compreender a ciência. Ao eleger-se os quadrinhos como objeto de reflexão, acreditamos fazer parte de nosso trabalho contribuir para um maior entendimento da relação entre determinadas manifestações artísticas e a ciência.

21 de Novembro – Auditório da Escola de Ciência da Infomação

Mesa 8 – Ideologia e
política em ciência e tecnologia
-
08:00 – 09:45

Debatedor: Graciela de Souza Oliver (Departamento de História – UFMG)

Discurso e práticas na tecnociência da governamentalidade neoliberal

Yurij Castelfranchi (Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, UNICAMP)

O funcionamento da tecnociência contemporânea é analisado neste trabalho a partir da noção foucaultiana de dispositivo e da análise da reconfiguração sofrida nas últimas décadas pela racionalidade governamental liberal (Foucault, 1991, 1994, 2004, 2005, 2006). Tecnologia e ciência são cada vez mais representadas e geridas como se fossem uma produção conjunta. A tecnociência contemporânea se caracteriza por uma co-penetração e uma fuzzyness crescente entre ciências, técnicas e capitalismo, entre conhecimento público e proprietário, entre pesquisa acadêmica e industrial, especialmente em áreas estratégicas (biotech, nanotech, infotech, sistemas inteligentes). (Nowotny et al., 2001; Strathern, 2003; Ziman, 2000). A partir da análise do discurso público sobre C&T, das afirmações de policy-makers, pesquisadores e cientistas-empreendedores mostramos que, por um lado, a tecnociência atua como um dispositivo "de inexorabilidade", despolitizado, automatizado; por outro, funciona no interior de uma racionalidade em que a soberania absoluta da tecnocracia é impossível. A maneira em que o governo e o controle social funcionam precisa da despolitização da tecnociência mas, ao mesmo tempo, requer sua total incorporação política; precisa afastar a governance popular mas, requer uma retórica do diálogo, da participação, da inclusão e um feedback capilar, in real time, com a população.As instituições científicas e tecnológicas precisam hoje dialogar com inúmeros atores. A caixa-preta (Latour, 1998) que se fecha quando o conhecimento científico torna-se "verdadeiro", e o afasta e protege da politização, de fato é uma caixa de vidro. Semi-rígida, porém transparente e frágil. A tecnociência em ação é uma tecnociência pública.

Sobre as Reivindicações de Filiação Histórica e Intelectual do Manifesto Transhumanista Italiano

Roger Dutra (CEFET-MG)

21 de Novembro – Auditório da Escola de Ciência da Infomação

Mesa 09 – Sócio-técnicas de diagnóstico e prescrição- 10:00 – 11:45

Debatedor: Luiz Henrique Lacerda Abrahão ( Mestrando em Filosofia – UFMG)

Pesquisa colaborativa em um programa de desenvolvimento tecnológico de insumos em saúde: breves considerações sobre uma colaboração contestada.

Márcia de Oliveira Teixeira (Lic-Provoc/EPSJV/Fiocruz); CarlosSaldanha (LabCities/ICICT/Fiocruz); Ana Teresa Filipecki (Lic-Provoc/EPSJV/Fiocruz); Helena Espellet Klein (LabCities/ICICT/Fiocruz).

No Brasil o setor saúde distingue-se pela frágil pesquisa tecnológica e alta incorporação de tecnologias estrangeiras. Situação que contribuiu para o fomento ao desenvolvimento de tecnologias, particularmente de produtos para doenças negligenciadas pela indústria farmacêutica internacional. Uma estratégia adotada para a indução à P&D de insumos em saúde são os programas de pesquisa colaborativa.

Este trabalho analisa as relações complexas entre as estratégias individuais e a dinâmica da colaboração em um programa de pesquisa colaborativa desenvolvido por instituição pública de pesquisa em biomedicina (IPP). Consideramos os mecanismos de coordenação utilizados insuficientes para alterar a dinâmica da pesquisa nesta IPP, baseada em projetos coordenados por um pesquisador sênior e ancorados em um laboratório. Partimos, assim, da proposição de Sonnenwald e Pierce de colaboração contestada para lidar com cooperações nas quais os objetivos individuais comprometem o esforço colaborativo.


 

"Confirmando visualmente o código": reflexões etnográficas sobre práticas de visualização científica e modelagem computacional

Marko Monteiro ( Renanosoma – Instituto de Pesquisas Tecnológicas -IPT-USP)

Este trabalho analisa práticas de visualização científica do ponto de vista etnográfico, buscando uma interpretação de como tais objetos visuais participam da construção do conhecimento. Baseia-se numa etnografia de 17 meses com um grupo interdisciplinar, baseado no sudoeste dos Estados Unidos, que trabalha com modelagem computacional de transferência de calor em tecidos. A pesquisa incluiu observação participante de reuniões semanais, entrevistas com os cientistas e registro videográfico das interações observadas. As observações constatam que os cientistas dependem das visualizações de forma importante no estabelecimento da evidência científica. Além disso, a pesquisa demonstra a necessidade de buscar saídas metodológicas para além da análise do "visual", a fim de compreender as interações incorporadas dos cientistas com as imagens e modelos através de gestos. Para concluir, o trabalho discute algumas das particularidades do uso de metodologias visuais (uso de gravação em vídeo) no processo da pesquisa, refletindo sobre seu valor na observação etnográfica de práticas de produção do conhecimento científico.

A Regulamentação da Toxina Botulínica no Brasil: uma controvérsia em análise.

Isabel Lüscher Fonseca (Graduanda em Ciências Sociais – UFMG)

O trabalho apresentado é a descrição de um momento específico no processo de consolidação de uma nova marca de medicamento – momento este que coexiste com a tentativa de várias entidades, representando interesses os mais diversos, de impedir tal consolidação. Como uma tentativa de empreender um estudo da ciência e da tecnologia, entendemos ser necessário desconfiar das verdades científicas consolidadas – não pretendendo negá-las, mas inquirindo por que essas verdades, e não outras quaisquer, se consolidaram no saber científico. Quais foram os agentes responsáveis pelo encerramento das disputas e pela determinação do vencedor? Quais as estratégias por eles utilizadas? Quais os interesses subentendidos nos argumentos de cada parte envolvida? Enfim, como se dá a produção de verdades científicas válidas, e mais que isso, incontestáveis? Seguir os rastros da ciência nos permite perceber os mecanismos elencados para que seja erigida uma estrutura de saber que sustente tipos de comportamento e formas de existência e relação no mundo prático.

21 de Novembro – Auditório da Escola de Ciência da Infomação

Mesa 10 – Humanos e não humanos em ciência e tecnologia I- 14:00 – 15:45

Debatedor: Em definição

Ciência e natureza: o processo regulatório da experimentação animal no Brasil (1995-2008)

Ana Teresa Filipecki (Lic-Provoc/EPSJV/Fiocruz);Márcia de Oliveira Teixeira(Lic-Provoc/EPSJV/Fiocruz);CarlosSaldanha (LabCities/ICICT/Fiocruz;HelenaEspellet Klein (LabCities/ICICT/Fiocruz).

O uso de animais não-humanos na pesquisa é controverso e complexo e tornou-se

uma disputa entre defensores dos direitos e do bem-estar dos animais, legisladores,

cientistas, produtores, veterinários e políticos. No cenário internacional, intensificaram-se as restrições legais à experimentação animal, gerando o desenvolvimento de tecnologias alternativas. Em regimes democráticos as regulamentações sobre experimentação animal traduzem como os grupos sociais localmente situados vêem, interagem e conceituam natureza em diferentes períodos históricos; bem como, compreendem as relações ciência, natureza e sociedade. O objetivo desse trabalho é investigar as noções de natureza, mais especificamente, de animal não-humano presentes no processo regulatório da experimentação animal no Brasil. Analisaremos, assim, o processo de tramitação do Projeto de Lei 1.153/95, promulgado em 2008, que envolveu disputas entre diferentes grupos heterogêneos das sociedades civil e científicas.


 

Uma introdução à história do laboratório de Análise do comportamento no Brasil: 1961 a 1965

Rodrigo Lopes Miranda (Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação – UFMG; Sérgio Dias Cirino (Professor da Faculdade de Educação da UFMG;

O objetivo deste trabalho é apresentar uma introdução à história do laboratório de Análise do Comportamento no Brasil, circunscrevendo-a ao período compreendido entre 1961 e 1965. O foco principal desta investigação recai sobre os usos da caixa de condicionamento operante realizado neste ínterim. Parte dos dados coletados nesta análise auxilia em uma compreensão mais sofisticada da história da Análise do Comportamento no Brasil. O recorte temporal entre 1961 e 1965 foi selecionado por compreender as duas primeiras visitas do professor Keller ao Brasil. Primeiro como professor visitante da USP e depois da UnB. Neste período também situa-se a criação dos dois primeiros Laboratórios de Análise do Comportamento e a formação dos primeiros brasileiros orientados por esta vertente teórica. A partir deste trabalho, percebe-se que o início do desenvolvimento Análise do Comportamento no Brasil está nitidamente marcado pela caixa de Skinner. Além disso, nota-se um duplo papel do laboratório, ora com finalidades de pesquisa, ora de ensino. Pode-se observar, em acréscimo, que tomam-se os instrumentos científicos como signos neutros que dizem sobre a realidade, perdendo-se de vista que eles próprios são produtos de uma parcela do mundo que estudam e que foram construídos com determinados fins. Dessa maneira, considerando-se que os objetos científicos foram desenvolvidos para poderem dar voz ao recorte do mundo que estudam, não sendo ferramentas neutras, a caixa de condicionamento operante está compreendida nesse conjunto.

Rádios Livres: Etnografando redes

Flora Rodrigues Gonçalves (Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia – UFMG)

Este trabalho tem como objetivo acompanhar as controvérsias que envolvem as Rádios Livres, a partir da etnografia de duas rádios: a Rádio Muda, de Campinas; e a Radiola, de Belo Horizonte. As Rádios Livres aparecem no cenário brasileiro como um movimento recente cuja análise é complexa. Além de operarem na clandestinidade, sendo alvos de represálias vindos de órgãos reguladores como a Anatel e a Polícia Federal, as Rádios Livres se organizam em associações auto-gestionadas chamadas coletivos.Pretendo discutir as relações sócio-técnicas que envolvem as Rádios Livres no atual cenário brasileiro, a partir das redes tecidas pelas próprias rádios e pelos agentes envolvidos nas controvérsias em questão.

21 de Novembro – Auditório da Escola de Ciência da Infomação

Mesa 11 –Humanos e não humanos em ciência e tecnologia II 16:00 :11:45

Debatedor: Ana Lúcia Modesto (Departamento Sociologia e Antropologia – UFMG)

Os Agentes Indígenas Tukano de Saúde e algumas questões sobre relação e refração

Camila Becattini Pereira de Caux (Graduanda em Ciências Sociais – UFMG)

Os Agentes Indígenas de Saúde (AIS) são funcionários indígenas contratados pelo Estado, responsáveis pelo atendimento primário à saúde dos índios. Eles são vinculados à rede operacional do SUS e estão enquadrados dentro do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), instância operacional da FUNASA para atuação de serviços de saúde nas áreas indígenas. A instalação dos DSEIs e a contratação dos AIS pelo Ministério da Saúde, no entanto, não teve um trajeto retilíneo ou encerrado; esse percurso foi (e é) marcado por hesitações, indeterminações e reformulações. A proposta desse trabalho é mapear alguns dos pontos controversos referentes à composição desses dispositivos, principalmente no DSEI do Rio Negro (AM), e perceber a relação dos inúmeros mediadores que atuaram e atuam em rede a fim de colocar em ação a assistência governamental. Esta apresentação abordará os aparatos técnicos acionados pelo governo para transportar e fazer executar as proposições dispostas na Política de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, cruzando-os com as concepções e agenciamentos cosmológicos dos povos tukano habitantes da área.

Nas veias abertas de um laboratório: Primeiras leituras de um corpo-a-corpo com o sangue.

Daniel Alves de Jesus (Mestrando em Antrpologia - UFMG)

A partir da segunda metade do século XX a prática da transfusão sangüínea tornou-se corrente em nossa sociedade. O processo laboratorial que leva o sangue do doador ao receptor não é simples, sendo da competência de um número reduzido de profissionais altamente qualificados. Ainda assim, para que o sangue e seus hemoderivados circulem nos corpos e em nossa sociedade é preciso levar em conta esquematismos entre homens, máquinas e o próprio sangue que resultam em múltiplas variações na relação com os nossos corpos. Essa disseminação das práticas de transfusão está ainda envolta em uma série de controvérsias técnicas, políticas, morais e econômicas. Este texto, que é parte de uma pesquisa em andamento, tem por objetivo apresentar as primeiras leituras de um campo no laboratório do Hemominas, principal hemocentro de Minas Gerais, acompanhando o processo pelo qual o sangue é colocado em "circulação social". De modo mais específico, trata-se de apresentar os primeiros resultados de uma "etnografia do sangue" que busca acompanhar o movimento deste para fora dos corpos dos doadores, bem como as associações e as modificações que se fazem necessárias para que ele circule em outros corpos. Uma leitura parcial já indica que o sangue não circula socialmente sem mobilizar uma variedade de agentes humanos e não humanos que o transformam de modo radical, e que o transformam para que ele continue sendo sangue. Em suma, trata-se de uma entrada na rede de circulação social do sangue procurando acompanhá-lo nas veias e artérias de todo um esquema complexo montado em torno da técnica da transfusão. Desta maneira, o meu texto pretende apresentar os resultados alcançados até o momento por esta etnografia do sangue.

Ressonâncias de atividades (rádio)políticas.Sobre o "Caso Marie Curie" e algumas torções na ANT

Gabriel PUGLIESE (Mestrando em Antropologia Social PPGAS-USP)

Nessa comunicação exploro os desdobramentos do acontecimento-radioatividade (1899-1903), os procedimentos laboratoriais dos cientistas interessados no fenômeno e as problematizações que se seguiram após seu enunciado: tratava-se de algo paralelo à fosforescência invisível? Ou uma transmutação atômica? Nem um nem outro? Táticas, bloqueios, encontros, estratégias entre humanos e não-humanos serão abordadas como constituintes do agenciamento que pôs em cena (o que passou a ser) a radioatividade. Tal agenciamento que chamo de "Caso Marie Curie" é produto de um encontro, entre os mecanismos de poder produzidos pela complementaridade sexual e as controvérsias em torno da radioatividade. Meu intuito é fazer aparecer em meio a esse sistema regional de lutas a fissura aberta pela radioatividade no poder distribuído pela imagística de gênero de

modo a potencializar um devir que arrastou Marie Curie a territórios historicamente masculinos: "a rádiopolítica". A essa luz, pretendo ranger a actor-network-theory, multiplicá-la, considerando que a singularidade do "Caso Marie Curie" é composta por inúmeros escalonamentos que tal imagem do pensamento tende a negligenciar.


 


 


 


 


 


 

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